Desde muito nova sempre quis crescer.
Tudo precisava ser o mais rápido possível, pra ontem. Precisava fazer 18 logo pra poder ter uma tatuagem e ser maior de idade. Precisava fazer 20 logo e ter juntado uma grana pra sair da casa dos meus pais. Preciso ter 30 pra me sentir segura e confortável em mim e financeiramente...
Eu literalmente corria pelas ruas e passava a maior raiva quando perdia um ônibus ou quando alguém se atrasava pra um compromisso. Um strees diário nessa corrida que é alcançar o "sucesso".
Lembro a primeira vez que ouvi a música Vienna, do Billy Joel,
"Slow down you crazy child You're so ambitious for a juvenile But then if you're so smart tell me Why are you still so afraid?
Where's the fire, what's the hurry about? You better cool it off before you burn it out You got so much to do and only So many hours in a day (...)"
eu lembro que pensei que essa música era pra mim. Embora na época eu romantizasse a ideia de ser alguém atarefada correndo atrás dos seus sonhos, com o tempo fui percebendo o impacto que isso tem na minha rotina e também o impacto que a cultura americana - the American Dream - tem em São Paulo. É bizarro!
Digo São Paulo porque é onde vejo todo mundo correndo na rua, buzinas, trânsito, 1001 empresários, mais 1001 histórias de sucesso... Mas acredito que isso deve rolar em muitos outros lugares do Brasil, enfim.
Esses dias tenho estado fascinada pela Europa, isso porque nas várias pesquisas que andei fazendo pra sustentar a possibilidade de morar em Portugal, comecei a consumir bastante conteúdo de pessoas que moram lá, mas principalmente de americanos que foram morar lá.
O que a maioria fala é como dá pra perceber a diferença no ritmo dali. Comparado com os Estados Unidos, é tudo muito mais devagar, podendo ser levado por um lado negativo (burocracias eternas, atrasos, estabelecimentos fechados) ou por um lado positivo (calma, apreciar o tempo, descanso, menos trabalho). Consumindo esse tipo de coisa, cheguei a conclusão de que São Paulo tem muito isso de acelerar, eu sempre tive muito isso de acelerar.
Na minha cabeça o meu sucesso financeiro estava acima de tudo.
Sim, a estabilidade financeira é muito importante, e eu só consegui dar essa desacelerada hoje, por ter chegado nessa "estabilidade", então é um super privilégio poder falar sobre isso. Porque consigo pagar minhas contas e ter uma reserva, é que consigo fazer uma pausa e decidir descansar mais, como uma profissional autônoma.
Com isso, tenho refletido bastante sobre o que é importante pra mim, agora que já alcancei muito do que queria.
O que me faz feliz?
O meu trabalho me faz feliz, porque optei por trabalhar com uma paixão, mas em excesso, me fazia uma pessoa nervosa, ansiosa, que sempre me comparava aos outros e tentava me ocupar quase 24h por dia para ter clientes, ter o que postar, ter visibilidade, ter garantia de trabalho. Isso começou a pesar em mim. O trabalho não era mais gostoso, era estressante.
Anos vivendo assim, sem férias, sem divisão de vida pessoal e profissional, me desafiei a uma quebra de rotina. 5 dias semanais de trabalho ao invés de 7, descanso aos finais de semana. E esse último mês fiz mais, 4 dias semanais de trabalho ao invés de 5, uma pausa no meio da semana para respirar.
Tenho testado tirar a quarta-feira de descanso para focar em estudar línguas, ler livros e o principal, descansar, não pensar em trabalho. Decidi embarcar nesse desafio - engraçado chamar de desafio algo que parece ser tão fácil né? - também por causa das flexibilidades e urgências de ser freela. Muitas vezes meus finais de semanas são comidos por uma entrega urgente, então decidi garantir outro dia, que é teoricamente sem trabalho, na semana.
Consegui tirar essa pausa no meio da semana porque organizo a semana com antecedência para ver tudo que precisaria adiantar na segunda e terça, ou tudo que poderia esperar até quinta e sexta. Sem organização as coisas não funcionam, pelo menos pra mim.
E o que aprendi nessas últimas semanas?
Não pensar em trabalho na quarta me fez pensar na quinta com empolgação, ao invés de uma cabeça cheia e cansada, eu já pensava em como seria legal fazer as coisas no dia seguinte;
Ter tempo específico para fazer hobbies acabou me forçando a não pensar no trabalho. Às vezes é inevitável, ideias de desenho, post, produto, vídeo, pipocam na minha cabeça sem eu querer, mas focar em outra coisa me fez... focar em outra coisa;
Reservar um dia pra ler, não vai fazer, necessariamente, eu alavancar na leitura. Eu achava que se eu focasse em estudar e ler, eu iria estudar e ler, mas realmente tem dias que a preguiça vem e só fiquei no sofá vendo série mesmo hahahaha (e tá tudo bem!);
Vivi o dia sem pressa. Como não tinha compromisso nem horários (diferente de finais de semana que muitas vezes são ocupados com comprimissos sociais, encontrar família, amigos...), sai para fazer uma caminhada e aproveitar o sol, fiquei deitada na rede olhando pro céu, preparei comida com calma, fiquei um tempão fazendo carinho nos gatos e só observando essas criaturas perfeitas.
E sentindo essas mudanças entendi que o descanso é tão importante quanto o trabalho, para o sucesso profissional. É algo que muita gente fala, mas pouca gente de fato tenta fazer. Se eu trabalhar mais, eu posso ganhar mais dinheiro, mas até que ponto isso é saudável, sustentável?
Então você, que tem flexibilidade na sua rotina, você que também trabalha como eu, te convido a fazer esse desafio da quarta off! Te convido a fazer um chá e ficar no sofá à toa, te convido a começar um diário visual, te convido a refletir sobre as coisas importantes da sua vida, te convido a conversar com você mesme.
Vamos desacelerar.
A vida é curta e o tempo passa rápido, mas parar para viver ao invés de só trabalhar, faz passar um pouquinho mais devagar.
Quero compartilhar algumas coisas relacionadas ao assunto com vocês:
Descobri o blog da ilustradora Rebecca Green e estou obcecada. Se tornou mais um dos motivos para eu continuar a escrever por aqui e trocar essa ideia com vocês. Recomendo muito a leitura, tem tanto assuntos mais "técnicos" de ilustração, como devaneios e reflexões sobre a vida: https://www.myblankpaper.com/blog
Comecei um diário visual. Li em um post no blog da Rebecca sobre isso e resolvi tentar. Desde pequena sempre mantive um diário, mas teve um momento que a correria me fez parar. Final de Agosto peguei um dos sketchbooks da loja (o Corações) e comecei a documentar meu dia. Desde coisas banais, até reflexões mais longas. Tenho certeza que ler isso depois vai ser gostoso e engraçado demais! Além de que escrever sobre o dia me faz descobrir coisas diferentes sobre mim.
Tenho pensado muito na música do Billy Joel, então vou deixar aqui pra vocês também:
Segunda-feira tem um lançamento super especial na Loja Papoulas Douradas e tem um produto que é a cara desse post, o Bloquinho Reflexões. Nele, cada página tem 3 tópicos, você escreve 3 temas ou 3 perguntas para escrever no dia e escreve. Preparei alguns conteúdos legais para o @loja.papoulasdouradas sugerindo alguns tópicos, mas deixo aqui 3 perguntas para você tentar responder:
Qual a sua memória de infância mais antiga?
Do que você tem medo?
Qual é o seu cheiro preferido?
Eu maratonei a série "Hierarquia" da Netflix e fala muito sobre correr atrás do sucesso. Eu gostei bastante e chorei bastante também, recomendo e estou doida pra próxima temporada!
É isso por hoje, obrigada por me ouvirem!
E descansem esse final de semana, hein?
❤️